| Resumo: | ""Nos últimos anos, a Intervenção Precoce (IP) caracterizou-se por avanços consideráveis no seu domínio, em resultado de um conjunto de influências práticas, conceptuais e teóricas, que tiveram grandes repercussões e implicações na implementação e na organização da Abordagem Centrada na Família. A especificidade do significado desta abordagem reside no reconhecimento de que as famílias são o contexto principal para a promoção e para o desenvolvimento da criança; no respeito pelas escolhas da família e pelos seus processos de decisão; na ênfase nas competências da criança e da família, e nas parcerias família/profissional. A mudança para uma abordagem centrada na família tem, assim, implicações nos contextos das práticas e da sua aplicabilidade, exigindo não só o abandono de papéis tradicionais desempenhados pelos profissionais que, na maioria das vezes, continuam a considerar-se especialistas e detentores das escolhas, alienando a família de todo o processo de apoio, como também a adopção e a aprendizagem de novos valores e de novas competências, que se implementam em todas as etapas do processo de apoio. Consequentemente, nesta investigação, intitulada Práticas centradas na Família em Intervenção Precoce: Um Estudo Nacional sobre Práticas Profissionais; definimos como finalidade do estudo a avaliação das práticas dos profissionais integrados nos projectos de IP, em Portugal (continente e ilhas). Delimitando a finalidade da nossa pesquisa, enumeramos os seguintes objectivos do estudo: 1 - Traduzir e adaptar o instrumento Brass Tacks, versão avaliação, para profissionais; 2 - Caracterizar os projectos de IP portugueses, em termos de Distrito/Ilha onde estão implementados, o seu enquadramento legal, a existência de articulação, o número de crianças atendidas, e o local onde o apoio é prestado; 3 - Caracterizar, em termos demográficos, os profissionais que integram os projectos de IP, em Portugal (continente e ilhas); 4 - Identificar a frequência das práticas centradas na família, utilizadas pelos profissionais, nos projectos de IP, em Portugal; 5 - Identificar o grau de importância, atribuído pelos profissionais, às práticas centradas na família, utilizadas nos projectos de IP, em Portugal; 6 - Identificar os tipos de formação (inicial, especializada, e em serviço) dos profissionais de IP, e as respectivas entidades formadoras que ministram esses tipos de formação em Portugal; 7 - Identificar os diferentes papéis desempenhados pelos profissionais nos projectos de IP, em Portugal; 8 - Identificar os pontos fortes e as fragilidades da articulação dos projectos de IP, em Portugal; 9 - Identificar as medidas a adoptar para a implementação das práticas centradas na família, em Portugal; e, 10 - Identificar as barreiras que os profissionais consideram serem impeditivas ou condicionantes para a implementação das práticas centradas na família em Portugal. A amostra deste estudo é constituída por 558 profissionais, que integram os projectos de IP existentes nos 18 distritos do Continente e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (exclusivamente no Funchal), no ano de 2007. A metodologia utilizada, neste estudo, é de natureza quantitativa, diferencial e transversal, e o instrumento utilizado, Brass Tacks, versão avaliação para profissionais, foi desenvolvido no Frank Porter Graham Child Development Center, da University of North Carolina at Chapel Hill, por Pam, J. McWilliam e Robin, A. McWilliam, em 1993. Os resultados globais obtidos neste estudo permitem-nos concluir que: os profissionais consideram que utilizam, na maioria das vezes, as práticas centradas na família, no apoio que prestam às famílias em IP, embora exista uma discrepância entre as práticas que os profissionais consideram implementar e o grau de importância que lhes atribuem; as práticas centradas na família são mais evidentes nas Etapas Planificação e Intervenção, e menos evidentes na Etapa Primeiros Contactos e Avaliação; a variável formação em serviço e tempo de serviço em IP tem impacto significativo nas práticas centradas na família; as práticas centradas na família são mais frequentemente utilizadas nos contextos naturais da família; não existe diferenciação nos resultados das práticas, tendo em conta as faixas etárias das crianças apoiadas (0-2 e 3-5 anos); e que existe uma influência positiva da articulação de serviços e dos apoios, bem como da função de coordenador de caso, desempenhada por alguns profissionais nos projectos de IP, nas práticas centradas na família. Como recomendações à implementação das práticas centradas na família, os profissionais destacam a necessidade de mais e melhor formação específica na IP (inicial, especializada, e contínua) e a definição e implementação de políticas de IP em Portugal, que possibilitem uma maior uniformidade e funcionamento das equipas a nível nacional, bem como uma maior estabilidade no vínculo contratual dos profissionais que compõem as equipas"". |
|---|