| Resumo: | Enquadrada no domínio da Psicologia da Saúde e considerando que o bem-estar e os constructos da qualidade de vida são parte de uma constelação que faz da relação entre o ser humano e as tecnologias, uma experiência inseparável, a presente investigação pretende fundamentalmente explorar os principais indicadores de qualidade de vida nas pessoas com limitações graves da mobilidade, de entre os seus hábitos de vida (participação social), as suas características psicológicas, clínicas, sociodemográficas e as relacionadas com as tecnologias de apoio, nomeadamente com a cadeira de rodas que utilizam. Nos últimos anos, tem sido crescente a atenção dada à participação social como medida de resultado dos programas de reabilitação, particularmente os que incluem tecnologias de apoio. Assumindo a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (WHO, 2001) como base teórica desta investigação, propomo-nos estabelecer ligações entre as suas componentes e a qualidade de vida, na expectativa de encontrar padrões para avaliar este último constructo. Desta forma, os objectivos foram definidos com vista a analisar a relação entre a participação social e a qualidade de vida, verificar se essa relação é moderada pelo efeito de outros factores, e, finalmente, explorar o contributo de cada um deles na predição da qualidade de vida. Estudo descritivo, exploratório e de desenho transversal, cuja amostra, seleccionada por conveniência, é constituída por 190 indivíduos utilizadores de cadeira de rodas, integrados na comunidade, com diagnósticos diversos, mas sem doença ou deficiência mental ou cognitiva (critério de exclusão). Para verificação das questões norteadoras da nossa investigação foram aplicados designs estatísticos descritivos (medidas de tendência central e de dispersão); inferenciais (bivariados: t Student, para amostras independentes, ANOVA a um factor e r de Pearson; multivariados: regressão linear múltipla, regressão linear múltipla hierárquica [RLMH] e regressão linear múltipla hierárquica com efeito de moderação). O nível de significância foi de α=0,05 com intervalo de confiança de 95%. Os resultados mostram que a qualidade de vida é um constructo constituído por várias componentes, em que, tanto as actividades básicas da vida como as regras sociais estão moderadamente associadas. Os factores psicológicos, sociodemográficos e relacionados com as tecnologias de apoio, embora determinantes da qualidade de vida, não modificam o efeito que a participação social exerce sobre a mesma. Embora a participação social seja um factor que prediz em 19% (Δr²=0,19) a variância da qualidade de vida, os factores com mais relevância explicativa são os psicológicos, nomeadamente, a felicidade subjectiva, a satisfação com suporte social emocional e as atitudes em relação à incapacidade, com uma percentagem significativa de 24% (Δr²=0,24) nessa variância preditiva. Apesar de mais modesta, a satisfação relativamente à cadeira de rodas que usam e os serviços associados ainda acrescentam 3% (Δr²=0,03) na explicação da mesma variância. Foram excluídos deste modelo, factores como anos de escolaridade, ocupação e suporte social tangível. Podemos concluir que, no seu conjunto, o modelo de RLMH prediz 46% (r²adj.=0,46) da variância total da qualidade de vida percepcionada pelas pessoas utilizadoras de cadeira de rodas. Retiramos destes resultados implicações para a intervenção, que deve ser partilhada por vários profissionais da reabilitação que, no conjunto, contribuam para a obtenção dos melhores resultados em termos de participação social e de qualidade de vida das pessoas utilizadoras de cadeira de rodas ou de outro tipo de tecnologias de apoio, incluindo estratégias que considerem os factores psicológicos e as tecnologias de apoio (equipamentos e serviços) a par e em simultâneo com outras, com enfoque na maximização da participação social. |
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